Era tarde da noite, a mulher se
preparava para colocar as meninas na cama e esperar seu esposo chegar da casa
dos seus pais como fazia todos os dias. O jantar estava frio no fogão, ele
demorou mais do que o comum hoje, as filhas inquietas tagarelavam para a mãe na
intenção de chamar, uma a uma, a atenção.
Na confusão da antes calma segunda-feira,
o telefone toca: “Deve ser meu marido, o que será que aconteceu?” – pensou a
senhora que acabara de tirar o garfo da mão de sua filha de três anos.
- Alô?
...
Silêncio.
Quando se preparava para voltar
pra casa, dois assaltantes armados entraram no carro do homem e pediram que
entregasse tudo que tinha, sem qualquer sinal de arrependimento. Foi
agonizante; seu pai, do lado de fora, gritava pedindo socorro, mas o pobre moço
já estava com uma arma na cabeça, portas fechadas, sangue quente correndo nas
veias, com o pensamento em apenas um lugar: sua família. “O que fazer? O que
pensar? Devo ficar calmo? Devo reagir? E a minha mulher? E minhas filhas? E
agora?”. O caos impedia qualquer gota de sanidade, a essência ia se esvaindo
como um orvalho na manhã de domingo, o medo de perder sua vida sem dizer para
seus amores que o amor existe e que ele as ama. O terror de se estar sozinho,
de sofrer em silêncio, sem pedir socorro a nada nem ninguém.
Engano seu, leitor.
Havia alguém que sabia exatamente
tudo que estava ocorrendo, que nos olha todas as noites procurando algum vestígio
de sofrimento, aquele que você pede proteção todas as manhãs fazendo o sinal da
cruz, que está na sua oração quando vai almoçar até a hora de dormir. Aquele
que sua mãe diz para ir junto com você. Vai com Deus, filho. Vá com Deus.
Não estou aqui para buscar um
sentido para qualquer acontecimento que ocorre no dia a dia. Não quero que
acredite em uma palavra do que disse, mas quero confessar que creio com todas
as minhas forças que existe um ser maior nesse universo supervisionando e
orientando nosso destino. Ele não falha, tudo está escrito e pronto em nossa vida.
Como um toque mágico, um objeto
relativamente simples foi visto por um dos assaltantes. Era pequeno, velho e
nobre. Uma Bíblia. Sim, aquela que foi escrita por homens, que ainda é investigada
pela ciência, que não há provas concretas da sua real natureza. Havia uma Bíblia
no banco de trás do carro que fez o homem ser salvo de algo pior naquela noite
de segunda. Os assaltantes se recusaram a continuar, disseram que iriam embora.
E foram. Porque o marido daquela mulher, que chorava ao telefone pedindo ajuda
para sua família depois que soube do ocorrido, era evangélico, cristão e
carregava Deus no peito.
Entenda que é duvidosa a
existência de um poder para a escritura. Historiadores contestam, religiosos
afirmam. Hoje, percebi que não é o poder em si, mas o que esse pequeno livro
representa. Um conjunto de lembranças, de crenças, de histórias; cada minúscula
experiência vivenciada por cada um de nós. Tudo isso nos leva ao poder do
milagre, da aura divina, de Deus.
A Bíblia salvou o homem, não
nego. Mas antes disso, o que salvou aquele moço foi a crença dos assaltantes em
algo sobrenatural. A certeza de que se fizessem mal para o motorista, algo pior
aconteceria. Mesmo o mais descrente ficaria impactado com essa história. Eu
fiquei.
Como um poder intocável,
imensurável, inegável foi capaz de salvar aquele rapaz? O destino existe, a
linha está sendo escrita e continua sendo costurada, dia após dia, o que iremos
trilhar. Você pode não ser religioso, não acreditar na existência de Deus, mas
respeite os fatos que a ciência não pode explicar.
Ai daquele que tocar em um
pequenino meu – uma mãe diz para um filho, dá a proteção que precisa. Deus ou
qualquer força que existe maior do que tudo aqui nessa Terra, diz para você
todos os dias. O poder está dentro de nós. Agradeça por estar aqui, por
respirar, por existir.
Termino dizendo algo que ouvi
hoje pela manhã e que tem um importante significado, real e intransferível: vai
com Deus.
Abraços,
Izabella Rendeiro