É apenas uma memória ou um desejo
que eu espero que se concretize: Lisboa, Portugal.
É difícil dizer como tudo
começou, visto que as coisas passaram rápidas demais. Porém eu acredito que o
acúmulo de expectativas em torno de uma publicação foi o estopim para um
desejo, que até então parecia impossível, mas vem se aproximando a cada dia.
Não sei ao certo o porquê de
estar escrevendo em torno de um sentimento reprimido, não sei o motivo de fazer
tantos planos, porém uma vez me disseram que os sonhos nos movem. Confesso que
parece clichê, mas eu vi que é cabível. O que nos faz ser o que somos são as
expectativas e interações com nós mesmos. Criamos mil planos e desvendamos
milhões de segredos internos, encontramos um caminho real, e na verdade, era o
caminho que sempre esperávamos.
Encaro essa jornada como uma
lembrança. Sou uma garota do Ensino Médio e procuro um passaporte para o mundo
inteiro. Tracei minha rota, mudei o trajeto bilhões de vezes, e sonhei muito.
Muito mesmo. Nada saiu do papel ainda... Ainda. Fico me imaginando com uma
mochila nas costas e o pensamento em mim; penso nas diferenças étnicas, nas
diversidades culturais, nos conflitos humanos e nos meus conflitos. Entendem-se
humanos no sentido psicológico da palavra, porque o homem tem suas mazelas intimas
o que só diz respeito a ele e mais ninguém. Porém, eu necessito entendê-los. E
farei isso.
Quando se lê: Entender os
conflitos internos de um ser humano, não falo de psicanálise nem patologia,
falo de verdade. Quero correr o mundo inteiro e entender o que cada pessoa
pensa; contracenar com idéias sob medida e criar um caderno de anotações
plausível para que no futuro, eu olhe e perceba que fui feliz no que busquei a
vida inteira.
Tudo é uma questão de tempo. Uma
vez, uma moça me disse que chegarei longe e eu não entendi. Mas hoje – não que
faça tanto tempo – eu vi que o que ela estava querendo dizer era o modo de ver
o mundo, talvez o espírito utopista e ao mesmo tempo racional. Uma espécie de
paradoxo, devo admitir. Eu espero ir longe, muito longe.
Isso é uma espécie de memória. Não
é um livro, não é ficção nem ciência, é experiência. Confesso que sou jovem e
não entendo certas metáforas que o tempo insiste em jogar na gente, mas sou
capaz de lê-las, sou capaz de pesquisá-las e sim, vou aprendê-las do modo mais
brutal. Sou insaciável e o conhecimento é o que me faz querer a mudança, opto
pela revolução. Pode parecer estranho, é como se quisesse fazer uma festa de
‘politicamente correto’ para divulgar mais tarde, só que devo ratificar que não
anseio por um grau social ou influência que alcancem o céu. Quero conhecimento.
Nada mais. Sei que isso me leva aos quatro mundos, ou quantos a ciência
desvendar.
Já sei o que sou: Um diário.
E sei também que não duro para
sempre, então devo ser breve.
Vamos começar por Jane Austen.
Suponho que já tenha lido – ou
espero que tenha uma noção do que seja – um conto chamado Razão e
Sensibilidade. Esse foi o pontapé inicial.
‘‘Então dei início a uma nova busca, algo distinto e inovador; fui ao
encontro do desconhecido, e deparei-me com um livro que estava há anos sem ser
aberto em minha biblioteca particular; percebi quão precioso era aquele simples
objeto,quando deslizei meus dedos sobre as páginas, senti o que me aguardava. ’’
– Trecho do meu primeiro texto publicado para o concurso.
Uma antiga professora de
português tinha me dito que eu escrevia bem. Eu tinha 13 anos e cursava a
sétima série. Pelo que me lembro, minha rotina era um tanto sofrível do ponto
de vista psicológico; eu era depressiva e meus textos eram carregados de dor –
herança que carrego até hoje, que é perceptível em alguns traços de minha
escrita; tinha um grau de pessimismo que trouxe até os meus 16 anos, fora a
sensibilidade. Sabe aqueles pacientes que a psicologia adora estudar e depois
mostrar que foi um sucesso, um exemplo de superação? Exato, eu fui um deles.
Não que eu pensasse em me matar,
eu só era uma adolescente irritada e problemática precoce. Nada tão ruim. Mas o
drama era tanto, que meus textos ficavam sensacionais e tristes. Uma prova viva
do poeta descrito por Fernando Pessoa em Autopsicografia.
A partir disso, o meu desejo
pelas letras foi se intensificando: primeiro, eu necessitava de atenção e
autoconfiança; segundo, eu precisava de elogios; e terceiro, meu caderno era
uma espécie de refúgio, e as letras eram um tratamento para a amargura e
solidão. Fui classificada como “muito bom” em qualquer texto que escrevia e fui
me aperfeiçoando.
Na oitava série o desejo era
outro: ser reconhecida. Estava vivendo uma época fútil e um tanto engraçada,
vivia me importando em colocar meus nomes em determinados trabalhos e ninguém
poderia tocar neles. Um egoísmo saudável, eu diria. Até que conheci uma
professora maravilhosa que me incentivava cada vez mais e me elogiava,
combinação perfeita para minha futilidade em se sentir amada – gesto que
carecia na minha vida fora do ambiente escolar. Hoje eu entendo que a vida mesmo se encarrega de nos mostrar para quem fomos feitos.
Um dado: Nada daqui tem fins
acadêmicos. É só uma marcação no tempo. Algo que quero guardar em um baú e
nunca esquecer.
Conheci um novo tipo de paixão,
de certa forma tinha um pouco a ver com o que eu gostava, falava um pouco de
literatura e passado. Falava da Ditadura. Falava de Chico Buarque. O conheci de
um modo engraçado, li um TCC de uma das minhas professoras e estava escrito:
“As mulheres de Chico”. Devo ratificar que sou curiosa e resolvi pesquisar o
que era tal homem e bem, descobri.
A partir daí foi instantâneo,
tive objetivos muito maiores, não queria mais ser notada, muito menos amada,
quis conhecimento. Investi na história da Ditadura Militar e nas músicas de
protesto, li artigos sobre os militares... Evolui. Passava despercebida nas
aulas, mas amava literatura e português, além da redação é claro. Gastei maior
parte do meu tempo na misteriosa biblioteca do meu colégio – Lugar onde
ninguém ia. Arrumava os livros, limpava-os, amava-os de certa forma e com isso
fui me tornando antissocial. Vida um pouco triste para uma garota de 14 anos. Porém garanto que sou melhor assim.
Nunca fui popular, sempre com uns
ataques histéricos quando discordavam do que eu falava. Apenas isso. Lembro-me
um dia que deixei de estudar para a prova de história a ler em um dia o livro
“O menino do pijama listrado” porque se tratava do Nazismo e campos de
concentração. Devo advertir que nunca fui a melhor aluna da sala, mas nunca a
pior. E amava história até certo ponto.
Então decidi embarcar nesse embaralhado de sonhos.
E bem, em 2012 fui convidada para
escrever um artigo sobre Jane Austen. Eis que surgiu a dúvida: por onde
começar? Visto que não sabia do que se tratava, de quem se tratava. E por ordem
divina – nunca a sorte – resolvi pesquisar em minha biblioteca particular de
livros do colégio que peguei sem autorização porque ninguém usava. Encontrei
Razão e Sensibilidade, um livro amarelo com uma mocinha na frente e o li.
Passei exatamente uma hora e meia
lendo sem parar e já tinha um texto em mente. O executei.
“Há
razões – sei que não passarão despercebidas em minha vida – pelas quais, um
encontro que, até ontem seria com uma estranha, hoje, uma amiga, uma
confidente, ou simplesmente: Jane Austen.”
Hoje ao ler isso tudo, percebo que sou
feliz no que faço. Embora jovem, tenho ambições um pouco impossíveis, mas quem
sabe? Quero conhecer os Distritos de Portugal e descrevê-los com precisão.
Independente de como são, se são ruins ou estão decadentes demais. É só uma
forma de reaproximar meu sonho de mim. Fazendo como se fosse um elo. Com um
simples recado: nunca desista.
Abraços lusitanos
Izabella Rendeiro