11 maio 2014

No fim, a criança venceu.


Hoje foi interessante acordar no local que morei por tanto tempo, abrir a janela velhinha, escutar seu rangido engraçado e ter a mesma visão que tive em parte da minha infância. Foi revigorante levantar na ponta dos pés, quase derrubar tudo por estar escuro e eu estar sem óculos, rir sozinha pela total falta de atenção; depois sacolejar minha irmã de 6 anos para fazer uma surpresa a mamãe sem que ela notasse. Voltei aos 5 anos de idade. Tudo parecia tão simples.
Lágrimas voltam sem controle nesse exato momento. A cada abrir de armário para encontrar o presente que eu havia escondido e esquecido, nos faz rever alguns conceitos. Passar quase dois dias em casa de novo com minhas meninas é uma forma de dizer: 'Estás viva, seu coração ainda não parou de bater nem de sentir'. Fui dominada por esse sentimento e não deixei que ninguém me tirasse daquela aura positiva e um pouco envergonhada, confesso. Logo eu, aquela que não acredita em amor - mas isso é outra história.
Agora o que faço é rir do rostinho da minha irmã  com a boca faltando alguns dentes perguntando baixinho: 'É hoje o dia das mães?', eu indico para que silencie, pois minha mãe tinha se mexido, e gesticulo que sim, hoje é o dias das mães - não havia tempo para explicar a ela que todo dia é o dia, perdoe-me. Ela abriu aquele sorriso lindo cheio de inocência que me entreguei e me possibilitei gargalhar, ela sabia de tudo sem saber de absolutamente nada. Vamos ficando burros à medida que crescemos, desacreditando coisas e defendendo outras, tudo em nome da razão. Como somos tolos! Veja minha pequena Mariazinha, com menos números na vida do que os seus cabelos brancos na cabeça. Crianças são belas e a porta de entrada para o céu.
Por um segundo, fui para o ano de 2004, ou 2005, não lembro ao certo. Quando eu era criancinha e voltei para cá, na casa da minha avó, cheia de sonhos feridos e corações partidos, descrenças mal resolvidas pude concluir que era jovem para isso, não passava dos 10 anos.Uma criança que se dizia forte e valente, prendia o choro para não magoar a mãe que já estava arrasada por ter que dar uma lembrança dessas para sua filha - relaxa, minha mãe, eu estou bem. Muito bem.
Embora eu acredite que houve a perda de sentido em qualquer data festiva no país capitalista que vivemos, eu vi que o sentimento vai além de tudo isso. Descobri hoje com minha irmã, o modo como ela se conteve para não revelar a mãe o que tinha escondido, mesmo tendo escapado coisas algumas vezes no dia anterior. 
Quando achamos o presente foi muito legal. Mariazinha ficou tão feliz e ela falou: 'Iza, posso fazer xixi? Me espera, não entrega ainda', eu disse para ter calma que a gente ia entregar os dois presentinhos juntas como irmãs. Achei lindo, sério. Não sei se sou uma irmã babona demais ou estava com saudade de viver aquilo depois de 5 meses sem participar da vida delas direito. Mas achei fantástico.
Enfim o momento, era para eu ter registrado. Acordamos a mamãe e a cara da minha irmã era divina. Pulava, se agitava e pedia para que abrisse logo o tal presente. ' Um sapato, mãe', foi o que ela falou antes da embalagem ser rasgada. Quis tapar a boca dela, mas resolvi deixar, que mal há? ' Um perfume também, a Iza que deu.' Ai, foi muito bom. Pura inocência.
Eu necessitava expor isso. É raro ter um momento assim e eu fiquei - confesso que ainda estou- emocionada com todo o episódio.
Fora o consumismo, hoje, dia 11 de maio de 2014 foi o primeiro dia das mães que me tocou fervorosamente. Mariazinha dizia que amava a mamãe e que escreveu uma cartinha, super desengonçada, mas escreveu. E a Iza aqui? Nada. Fiquei envergonhada por isso, e disse: 'esqueci, Maria, e agora? Um abraço na mamãe resolve?'. Como eu disse, crescemos e ficamos burros. É claro que resolvia. E era a única coisa que eu tinha para dar. Um abraço. O que a razão fez comigo? Mas o gelo daqui de dentro rachou. Hoje foi mágico, mais do que qualquer natal quando pequena. Porque a diferença é que eu senti de novo o que eu não sentia em anos. 

Beijos para todas as mães do mundo inteiro e lembrem-se: Vocês são especiais. Sempre.


Izabella Rendeiro.


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