Acordei cedo para olhar o
que estava no lado de fora da minha janela e não percebi muita coisa, confesso,
pois a chuva que caiu na madrugada deixou o dia e o vidro molhados para a
perfeita percepção. Fui preparar um café tradicional, mas só uma xícara, porque
não tenho companhia. Na verdade, não preciso de uma, as pessoas costumam mentir
e nunca ou quase nunca dizem o que sentem, então é melhor encarar os meus
próprios conflitos que já são muito grandes do que desvendar outro ser humano
em completa confusão.
Liguei o som na radio local, a
voz do outro lado falava aquelas mensagens clichês e monótonas para a própria
compreensão e se eu arriscasse, com toda certeza, acertaria o final de cada
frase. Resolvi poupar meus ouvidos e minha sanidade, então coloquei um vinil...
Sim, velho e antiquado, porém raro para a minha idade.
A pergunta é: O que é raro sem
ser velho e antiquado?
Preciso de um banho para ter a
resposta.
Pego meu famoso café que já está
pronto, dou uma golada... No ponto do açúcar. Agora, a resposta: Eu, não, sei.
Ser velho e antiquado pode ser considerado raro em minha concepção, ter um
detalhezinho aqui e ali que hoje, não existe mais no mundo; ser empoeirado e ao
mesmo tempo bem cuidado; ter funções que não funcionam como antigamente por
conta do tempo. Isso é ser raro. Porém mais que isso, é ter um valor único na
prateleira da sala, ser passado de pai para filho, de avô para pai...
E será que um dia nós, humanos,
seremos raros? Será que temos um valor distinto em torno das coisas
superficiais do planeta que vivemos? Será que seremos lembrados quando
morrermos? Eu arrisco um talvez. Mas não tenho a certeza, pois todos são
esquecidos, no começo lembrado em um ponto aqui e outro lá, porém com o passar
dos anos, o tempo faz o serviço de apagar os mortos da memória. Embora deixemos
nossa marca no mundo, embora tenhamos um nome na marca cara do outdoor...
Seremos esquecidos.
E ao som de Mozart, deixo a
seguinte pergunta : Você tem medo de ser velho, antiquado e descartado?
Um brinde ao esquecimento que o futuro reserva.
Um beijo que sequer será lembrado,
Izabella Rendeiro.
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